Artefato com cinco dentes humanos foi construído há mais de 400 anos
RIO — Uma escavação arqueológica na cidade italiana de Lucca, na região da Toscana, revelou o que pode ser a mais antiga prótese dental já descoberta. O artefato ainda não passou por exames de datação, mas elementos encontrados na tumba do monastério de São Francisco indicam que ele pode ter sido produzido entre o fim do século XIV e o século XVII.
— Esta é a primeira evidência arqueológica de uma prótese dental usando a tecnologia de armação de ouro para substituir dentes perdidos — disse Simona Minozzi, pesquisadora de paleopatologia da Universidade de Pisa e autora do estudo, em entrevista ao site Discovery News.
A prótese possui cinco dentes inferiores — caninos e incisivos — de pessoas diferentes, alinhados em sequência anatomicamente incorreta, que são unidos por uma armação de ouro. Os dentes tiveram as raízes removidas e receberam cortes longitudinais na base, para fixação na placa metálica.
— Análises revelaram a presença de dois pequenos pinos de ouro inseridos em cada dente para fixação na armação — disse Simona.
A peça era fixada na boca do paciente por duas estruturas em formato de “S” nas pontas da armação, que eram ancoradas nos dentes restantes. A técnica é parecida as modernas pontes dentárias fixas.
Escaneamento revelou pinos de ouro usados para fixar os dentes na armação - DIVULGAÇÃO/UNIVERSIDADE DE PISA
Na literatura, próteses para a substituição de dentes perdidos foram descritas pelos cirurgiões franceses Ambroise Paré (1510–1590) e Pierre Fauchard (1678–1761), considerado o pai da odontologia moderna. Relatos também indicam que os etruscos e romanos faziam dentaduras desde o século VI a.C. Contudo, nenhuma evidência arqueológica desses artefatos já foi encontrada.
A prótese foi descoberta durante escavações no Monastério de São Francisco em Lucca, em duas tumbas de pedra que continham os restos mortais de membros da família Guinigis, que governou a cidade entre 1392 e 1429. Porém, ao longo dos anos, enterros sucessivos se acumularam nas tumbas, então não foi possível fornecer uma datação precisa.
— Alguns fragmentos de cerâmica e medalhas encontrados na mesma camada estratigráfica foram datados do início do século XVII — disse Simona.
A dentadura foi encontrada junto com esqueletos de aproximadamente cem indivíduos, por isso não foi possível encontrar a mandíbula correspondente. Os pesquisadores especularam que o dono da prótese deve ter perdido os dentes por infecção ou pela idade avançada. Porém, análises dos esqueletos revelaram que metade deles tinha mais de 40 anos no momento da morte, idade avançada para a época, e muitos sofriam de doenças dentárias.
— Entre a aristocracia Guinigis, a presença de cáries, periodontites e dentes perdidos era mais que o dobro quando comparado com a população rural da Toscana — afirmou Simona.
POR O GLOBO 18/11/2016